julho 06, 2010

A Família da casinha Verde


''Nunca havia acordado tão indecisa. Estava tudo programado apenas até as doze horas, coisas como acordar tarde, ouvir musica, dançar, assistir TV, tomar um banho e almoçar. Fui feliz porque estava livre naquela manha para divertir-me com as músicas que tanto gosto, no volume que quisesse ouvi-las - pena que se aproximava o meio-dia. Dali pra frente, tudo seria vivido a partir de impulso. Demorei-me quase meia hora para finalmente levantar do sofá e me vestir de forma apresentável. Saí à porta, munida de dinheiro, um livro e o velho celular ainda sob uma duvida interna e certo medo.

Era engraçado porque as ruas estavam aformigadas de gente, mas ao mesmo tempo tranqüilas demais para uma segunda-feira. Quis me distrair com o dever, me atirando ao mundo lúdico dos grandes pensadores – era um dever vir a ser como eles. Sempre tive preferência especial por literatura, arte, humor e a biblioteca era meu refúgio, mas não podia mais fugir, naquele dia, inevitavelmente meu destino era outro. Peguei a bicicleta e me apressei em chegar à casa da tia que não via há anos. Estavam todos lá: a tia e os mais de trinta parentes esquisitos, contando com o tio barrigudo, o primo de cabelo engraçado e a cunhada fofoqueira da minha tia de terceiro grau e priminhos aos montes, correndo pela casa e quintal.

Eu ri. Rimos juntos e nos reconhecemos no riso.

Éramos trinta e um ali naquela casa simples de parede verde. Percebi que era hora de quebrar no dente as mascaras que eu criara para eles e para mim. Aquelas pessoas eram pedacinhos do que sou, afinal, foram co-tecelãos da minha história e sempre estiveram ali como referencia de gente legal.

Não me lembro quando foi que esqueci quem eles eram e nem quando passei a reduzi-los a personagens de fotos antigas. O mais novo primo, em meu colo, me fez lembrar de mim mesma há uns muitos anos, no colo de um daqueles que estavam ali.

Como olhar no espelho em três dimensões. Á esquerda, cacos de máscaras esmagados pelas imagens sorridentes da família perfeita em sua imperfeição; à direita, o mundo cercado por amor no qual desejo criar meus filhos; no centro, eu, olhando em meus olhos e descobrindo que ainda há tempo para unir tudo isso.''