julho 21, 2020

Agenda

Olá cara agenda,
Sei que não me preocupo com você há certo tempo... Na verdade me preocupo, mas fico ensaiando para seguir seus direcionamentos e te observo sem nem saber por onde começar. Aí está você tão segura de si em seus dias pré-determinados, seus meses completos e perfeitamente definidos por sei-lá-quem. E o que falar das segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos que seguem infinitamente sem inicio meio e fim, sem pausas e recontagens nos embalando num ritmo frenético de atividades que nos levam a vida e paz. Afinal, hoje é domingo e posso descansar, mas amanhã é segunda e há o trabalho, a escola, os cursos e tudo mais. 
Eu estou aqui hoje pra falar de mim e não de você. Mas, tudo isso que vejo em você é o que mais intriga o pensamento. Como posso eu, um ser inconstante, em pleno movimento, com dias que passam e levam e trazem muita coisa, problemas, desejos e sonhos que não me cabem à mente pois transcendem a tudo que é possível medir me encaixar em suas folhas tão limitadas? São muitas páginas, muitas linhas, mas é pouco pra quem sou. 
Como posso julgar-me a ponto de definir o que é tempo desperdiçado ou jogado fora e eu preciso desse tempo para que meu pensamento e alma respire. Como definir o que eu preciso colocar em suas linhas, como? E se o mundo me diz para me organizar e gerir meu tempo (essa palavrar gerir me soa tão matemática e nada sentimental) se o tempo não é meu... é dele que me exige a todo momento, a toda experiência, a toda pessoa que passa pela minha mesa de trabalho e linha do tempo da rede social.
Tempo este que me escorre pelas mãos sem eu saber ao certo o que faço com ele. Se é meu ou do mundo. Se é livre ou é apenas o que deve ser.