novembro 21, 2020

Re

     Foi uma longa e demorada década. Foram dias, semanas e meses incontáveis. Foram tardes, e outonos e primaveras e sons e palavras que se seguiam anos a fio, arrastados e exaustos. Foi-se a distancia, assim que houvera a possibilidade. Foi-se a mudez assim que houvera o grito de cio e não havia mais o que ponderar, medir, conter. Ele a tocou. Tocaram-se. Provaram-se e era o mesmo gosto, o mesmo cheiro, o mesmo fogo intempestivo e infinito. Nem mesmo o tempo em sua contagem tão cheia de rigor conseguiu manter-se constante naquele momento: era ontem, hoje, amanha, agora, futuro, passado – tudo ao mesmo tempo e sem inicio, fim e meio. Era um mundo a parte. Era o dia a dia pincelado pela presença. Era a poesia gravada no aroma do que não se pode deixar de lembrar, do que se faz sagrado na memória sobre momentos que não se sabe por quanto serão, por quanto haverão e que só imploram ser vividos sem meio termo, sem pausa, sem limites.

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